18 de set. de 2014

Ventania



Ali, deitada sobre o chão duro do quarto comecei a respirar você.
A consciência do teu ar entrando em mim e me alargando os poros foi de uma dureza sublime.
Respirei ofegante, como quem carrega o sopro de uma existência que já não é mais sua.
O ar, esse elemento etéreo do presente, me invadiu sem pedir licença.
O vento duvidoso de uma inicial calmaria logo evaporou.
Senti sobre o meu corpo o rabisco do vento que procura um espaço não conhecido para existir.
Uma ação sem grandes glórias e um desejo que não se sabe de onde vem e para onde vai.
Sinto que o ar é teimoso, ele insiste em aflorar pequenos delírios e grandes solidões.
Por causa de sua delicadeza, devasta qualquer vegetação imposta.
Por ser imposto, qualquer corpo vira cansaço.
Sempre que me perguntarem direi que foi assim que te conheci, sendo ventania no meu deserto.
E vivo, bem vivo!
Terno descomprometimento com o futuro.
Bem sei que encontrei você de passagem, indo ali buscar alívio e algumas doses de loucura.
De mim, sei menos.
Sei tudo quanto o amor que arde e nada além de toda essa confusão.
Viva, bem viva!
Inteira na errância de amar o que não estava no caminho.
Confundindo a língua com o grito com cheiro com a cor com o desejo com o pavor com a vontade de ser grande sem precisar sair de você. 


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