27 de set. de 2014

deus-vontade, deus-abismo.

Acabou sereno e com uma dose de entrega, de alívio, de tristeza e de esperança.
Acabou de começar.
Acabou para a gente derivar.
Do que gorjeia minha lembrança sinto que tivemos uma noite espetacular...
como deveriam ser todas as noites de despedidas.
Na noite do fim introduzimos um novo passo na dança,
descobrimos mais uma parte do corpo, do ritmo, do olho, do gozo.
Um último encontro como princípio.
Durou e findou.
Vento em revelia em um mundo de mística exaustão.
Ficamos aos pedaços.
Deu vontade de chorar. E choramos.
Deu vontade de calar, E calamos.
Deu vontade de amar. E amamos.
Deu vontade de partir. E partimos.
deus-vontade, deus-abismo.



18 de set. de 2014

Ventania



Ali, deitada sobre o chão duro do quarto comecei a respirar você.
A consciência do teu ar entrando em mim e me alargando os poros foi de uma dureza sublime.
Respirei ofegante, como quem carrega o sopro de uma existência que já não é mais sua.
O ar, esse elemento etéreo do presente, me invadiu sem pedir licença.
O vento duvidoso de uma inicial calmaria logo evaporou.
Senti sobre o meu corpo o rabisco do vento que procura um espaço não conhecido para existir.
Uma ação sem grandes glórias e um desejo que não se sabe de onde vem e para onde vai.
Sinto que o ar é teimoso, ele insiste em aflorar pequenos delírios e grandes solidões.
Por causa de sua delicadeza, devasta qualquer vegetação imposta.
Por ser imposto, qualquer corpo vira cansaço.
Sempre que me perguntarem direi que foi assim que te conheci, sendo ventania no meu deserto.
E vivo, bem vivo!
Terno descomprometimento com o futuro.
Bem sei que encontrei você de passagem, indo ali buscar alívio e algumas doses de loucura.
De mim, sei menos.
Sei tudo quanto o amor que arde e nada além de toda essa confusão.
Viva, bem viva!
Inteira na errância de amar o que não estava no caminho.
Confundindo a língua com o grito com cheiro com a cor com o desejo com o pavor com a vontade de ser grande sem precisar sair de você. 


9 de ago. de 2013

A caminho


A maternidade sempre foi um mundo muito distante pra mim. Poucas vezes acompanhei de perto uma gravidez. Caduco crianças, pego no colo, nino bebês alheios, brinco com os mais próximos e os andarilhos, mas gravidez mesmo... tempo, evolução, mudanças, elasticidade, dores , chutes e movimento, é uma gramática muito nova para mim. 
De alguns meses pra cá isso mudou um pouco. Dois amigos (bons compadres!) ficaram grávidos. A gravidez e tudo que a circunda passou a ser mais rotineiro, interessante e vivencial. Acompanhei, desde então, muito próxima a eles, esse desafio de tornarem-se pais. 
Raphael e Diana começaram devagarzinho, como quem não sabe o que virá.  Sempre achei bonito e honesto o modo como eles estranhavam aquela novidade toda. Aqueles velhos clichês sobre 'realização plena' e 'felicidade única no universo' se transformaram em outra experiência pra eles. Talvez, em vontade de descobrirem-se pais junto com o João Marcelo.
 Isso me marcou profundamente na relação dos três. Admirei mais ainda tudo aquilo. Aos poucos, fruto do tempo, do caminho e do movimento, eles foram se aconchegando e dando espaço para que João Marcelo fizesse morada, abrigo e companhia.


A partir deles me nutri de admiração pelo maternar. Observando, vi que tornar-se outro é se dispor de brechas para que algo surja e extrapole o que somos. Gerar um filho pode ser isso - extensão e abertura (embora não sem dor, cansaço, gozo, leveza, alegria, estranheza) para a multiplicidade. 



Por isso, fiquei muito honrada pelo convite para fotografar esse momento especial da vida deles. Sabidos da minha condição de “fotógrafa” não profissional + equipamento simples eles insistiram na aposta e foram bastante complacentes com o meu amadorismo. “Queremos seu olhar, Thami. O resto é resto”. Então, eu fui... sempre acreditei que existe potência nos restos.


 Raphael e a Diana são daquelas pessoas prenhes de entusiasmo,sabe?! Eles são generosos e adoram uma aventura. Então, nos divertimos um monte, foi um dia proveitosíssimo. Um sábado de sol aberto, ventilado e propício para um ensaio maravilhoso


Queria agradecer a eles pela confiança. Eu também confiei que nossa parceria daria um resultado lindo (como tem dado em todos esses anos de amizade!). Foram, ao todo, mais de treze horas de ensaio. E o tempo não define o sentimento que tenho ao ver o trabalho pronto; o gesto, a leveza e o registro dessa história deliciosa. 




O ensaio fotográfico ainda rendeu um registro em vídeo.  
Assista Três. 



Gratidão, compadres! 
Alma em festa.
Que o João Marcelo sinta o amor que dedicamos a ele nesse dia.