sentir.

Tenho tanto a mania de sentir

Que me extravio às vezes ao sair

Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que eu respiro,este licor que eu bebo,

Pertencem ao meu modo de existir,

E eu nunca sei como hei de concluir

As sensações que ao meu pesar concebo.

Nem nunca propriamente reparei,

Se na verdade sinto o que sinto.Eu

Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual meu julgo verdadeiramente?

Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,

Nem sei bem se sou eu que em mim sente.

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Fernando Pessoa (1999, p.301)

Obras Poéticas