10 de dez. de 2010

Eu sei, é triste.

"Duas pessoas em silêncio
Sempre dão tanto o que falar"

Thiago Petit em: Não se vá


Era um amor onipotente.
Começara bem cedo, ainda quando eram bem pivetes.
Nelas havia uma delicada estranheza, e mal sabiam que toda aquela implicância recebia dos outros  um nome adocicado de amor. O que não fazia diferença alguma para o desenrolar da história [delas], pois continuariam a viver sem dar importância a isso. E o que nominavam por aí [facilmente] de amor, podia muito bem ser trocado por raiva, implicância ou judiação, pra elas surtiria o mesmo efeito.
Para Valquíria e Pilar quanto menos pessoas se envolvessem com suas histórias melhor seria.
Elas eram as personagens mais fáceis de inventar, embora não sem dor.
Valquíria era o que podia chamar de audaciosa e inabalável, com uma timidez de doer os ossos. Ela era uma moça bonita, ereta,tinha a boca delineada,uma morenice brillhante e uns olhos amendoados.
Sempre era muito comovente escrever  sobre Valquíria, de tão pouco que ela se espunha. Íamos brincando da torpe tentativa de inventar mais dela, mesmo que isso não nos levasse a lugar algum.
Já Pilar era sentimental,tinha mania de viver com-pas-sa-da-men-te as coisas da vida. Era aquela que gostava da imaginação,  o que significava trabalho dobrado pra gente.
Tentar prender Pilar e Valquíria em um mesmo ambiente daria o maior estardalhaço. Quando as duas teimavam em habitar o mesmo espaço,todo o resto ficava insuportavelmente inabitável. Era como se aquele estranhamento tivesse propositalmente a função de isolar - uma carta na manga que as duas mantinham em segredo para se suportarem sozinhas,aposto. "A distância fala coisas com mais graciosidade do que a maioria dos toques". Desculpa,pensei alto.
Aprendi a enxergar essa artimanha como uma possível trégua. Uma união perversa para afastar os inimigos em comum, assim alongava-se o silêncio e arquitetava-se novas implicâncias.
Elas iam e vinham nas noites frias daquela madrugada, teimavam em se degladiarem sobre o mesmo palco giratório e sempre sobrava para mim observá-las. Ficava ali por horas,minutos,dias? Esquecia de comer,de dormir, ficava entre elas cheirando aqueles cabelos com cheiro de diferença.
Temia encontrá-las mais de perto, ficava sempre a margem. Ensaiava alguns pulos, desistia logo em seguida.
Queria ter as duas pra mim, em mim? Mas elas não se deixavam prender, escapavam mais rápido que os meus pensamentos, conseguiam até essa proeza.
Um dia quase consegui unir os dois corpos em um só lugar, foi um instante de muita expectativa, foi um quase de mo    ra                        do  que não se concretizou.
Me frustei, como sempre acabava acontecendo todas as vezes. Não verti lágrima alguma por elas, não valeria tanto assim. Me acomodei na cama, desliguei o abajour, tomei o remédio que guardara desde cedo e não lembro o que aconteceu depois. Talvez tenhamos fugido. As duas. eu. Era o que sempre fazíamos.


Ben, 10/12/10 -

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