22 de out. de 2010

Vitrine




A flor da moça me prendia a atenção. Era tão viva,estampada, parecia que não cabia naquele jardim de caracóis delineados.
Ela passava,na avenida ela passava,com passos mastigados, como se ali fosse hora e lugar de exibir pra mim toda aquela opulência.
Era uma moça jardineira e misteriosa,notava-se pela flor. Como se o enfeite entregasse tudo, que eu nem sei se ela fazia questão de esconder.
E o vento batia forte, balançava o acessório de modo que as pétalas se contorciam pra manter o equilíbrio,mas a moça não reluzia semblante algum, continuava a andar de modo nada apregoado,escondida de si mesma.
Apelidei-a de moça flor. Tive necessidade de torná-la mais íntima de mim.
Era assim que a esperava todas as tardes,precisamente às seis horas,hora de saída das obrigações labutares.
Ela sempre passava do outro lado da calçada,revestida numa educação inglesa,impecável e intocável,com as maçãs rígidas, a espinha levemente encurvada e o nariz na direção da calçada. E ia,sei lá pra onde ia.
Não tinha beleza, não tinha formosura alguma além da flor. Mas tinha a flor milimetricamente compatível à sua não beleza, que só combinava com ela,só tinha vida por causa da sua morte. 
Esse era o motivo por qual eu esperava todos os fins de tarde e que durava uma eternidade ligeira, mantida tão distante,tirada de vista quando ela dobrava a esquina.
Pensava todos os dia nesse casamento cheio de insignificanças:  a moça e sua flor transeuntes de mim. 
O que não era bem uma paixão,mas uma necessidade.
Mesmo a paixão sendo uma necessidade.


 


No meu toca fitas
Não se vá - Thiago Pethit



Um comentário:

  1. que liiiiiiiindo thamila!
    adorei adoroi adorei
    *-*

    imaginei uma pá de moças com flor no cabelo que já conheci, mas a tua pareceu unica *-*

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