A historieta a seguir é tão comum que você,provavelmente,nem se interesse em continuar a ler. Se prosseguir,comum será a partir de então. Isso é fato!
Havia um cenário.
Uma sala espaçosa, de meia luz, propícia para a ocasião.
A corda do relógio era o único som que se ouvia naquela sala. Os móveis antigos,o piano desgastado e os lençóis amassados eram os únicos espectadores privilegiados para o que acabara de acontecer.
O silêncio se mantinha vestido de reverência,como se o ocorrido fosse sagrado. Naquela hora da noite, já não se ouvia o barulho dos carros,dos freios,da pressa. Apenas o relógio era pecador naquele lugar,desobedecia sem temor as ordens e continuava sem intervenções seu ofício profano.
Tal como na ordem religiosa,algo naquela sala tornava as testemunhas cúmplices,experimenta(dores) de um mesmo sentido. Já não importava as subtrações de cada um,naquela hora daquele exato dia tornaram-se todos insignificantemente iguais.
Omiti uma informação importante,peço licença para concertar: O vento batia forte naquela noite,chegava a bradar ruídos inexpremíveis ,como se quisesse denunciar algo impróprio ou improvável. Esse era o outro som que se podia ouvir,se fechássemos os olhos,talvez.
O vento se alastrava na sala lacônica,que nem de longe lembrava as noites com música,whisky e amigos imaginários.
Agora o que se ouvia era silêncio,daqueles de doer de constrangimento. Nada além do silêncio, que fique bem claro a vocês.
A cor encarnada no sofá empoeirado dava indícios que cessava a vida naquele lugar.
O que restara era uma melancolia gélida de um crime sem perdão,assim como um instrumento jogado no carpete e um último gole no copo quase despedaçado.
Findou-se.
Rápido e cortante,como acontece na realidade. Sem honras,nem heroísmos,apenas com a vontade de sê-lo.
É assim que acontece todos os dias, em historietas tão comuns que a gente esquece que acontece.
Mas acontecem,nos silêncios,com a presença dos ventos e de testemunhas fiéis.
Pra escutar enquanto lê ♪
O Silêncio das estrelas - Lenine.


"É assim que acontece todos os dias, em historietas tão comuns que a gente esquece que acontece."
ResponderExcluirlindo!
no simples e corriqueiro há beleza e verdade.
beijin
On livinha,
ResponderExcluirmuito obrigada! =)
adoro quando você vem por aqui!
beijos.