Eles corriam descalços pelas ruas empoeiradas de Florbela. De incomum tinham os shortinhos surrados, o cabelo por fazer, a terra nas unhas e o sorriso estampado na face.
Era assim desde que eles se entendiam por gente, a saída de casa no amanhecer do dia, logo após o café preto com farinha e o beijo tímido na mãe. Esse era o ritual diário daqueles pivetes, ali conquistavam a independência por algumas horas e essa talvez fosse a melhor hora do dia. Não importava o suor escorrendo pelo pescoço, nem os quilometros a ser percorridos a sol a pino, bom mesmo era a andança, as pedrinhas chutadas pelo caminho e a companhia que faziam um ao outro.
Felicidade era os apelidos criados debaixo daquele calorão, parece até que ficava mais fácil ficar inteligente nessas horas, a memória trabalhava rapidinho, parece que adivinhava a competição entre os dois.
Naquele caminho, cheio da sequidão do sertão ,os dois encontravam motivos pra rir da vida. Eles gostavam de ir cantarolando toadas, igualzinha as que os pais ouviam no rádio.
Ali, naquele mundaréu de pedrinhas tortuosas, vivia mais quem compartilhava e aqueles meninos nasceram sabendo de cór que de dois é mais leve,fica mais fácil suportar.
Diariamente o compromisso era firmado entre os meninos franzinos,a busca da água no poço e o retorno pra casa com os baldes transbordando daquela preciosidade. Eles sabiam que eram úteis para toda a casa,por isso dormiam satisfeitos pelo ofício,ficavam orgulhosos quando viam aquela gente toda bebendo do pote, dava a sensação de ser Deus, de ser responsável por matar a sede.
Após o reabastecimento dos potes, eles voltavam para a rua pra aproveitar o resto do dia e brincavam com a mesma cumplicidade de costume. Era assim,diante da falta, que eles sempre entravam em ação.
E foi assim, durante alguns longos dias de suas vidas, entre secas e cheias, que germinou uma parceria de reabastecimento de potes.
Essa era a desculpa diária que eles encontraram para as conversas tolas, para os apelidos criativos e para as gargalhadas demoradas. Era o poço distante o responsável pelas melhores histórias de suas vidas. Como não amar a falta de água? Era o sentimento mais sincero que brotava deles.
A parceria de reabastecimento de potes fez frutificar do caos da seca uma linda amizade e aqueles meninos que corriam juntos, descalços e felizes da vida, sentiam que tinham bem mais em comum do que podiam imaginar. A água,a sede e a alegria de estar junto.
Feliz dia do amigo!
adorei!!!
ResponderExcluirmuito bom...
muito obrigada,leazinhaa!
ResponderExcluir=D
Thamila, parabéns pelo blog. Os textos são muito bons. Costumo dizer que as vezes o que nos caracteriza não é nem tanto o avesso, mas o avesso do avesso. Continue assim...
ResponderExcluirAbraço, George.
É isso mesmo!
ResponderExcluirPra cada um, o seu avesso ou os seus avessos.
O importante mesmo é que a gente se sinta e encontre aquilo que faz bater mais forte o coração.
Abraço, George.