19 de mar. de 2010

Um mais um

(Eu ganhei um presente!
E que presentaço,é uma crônica! )

Ps. Olhem que dedicatória mais linda!

Para a senhorita Thamila Cristina, uma promessa, um presente.
Melancólico, porém meu.



Dois anos.


É tempo demais. Até pra mim, que desaprendi a contar só pra não me magoar mais ainda. Fomos morrendo durante esse período. E nascendo de novo. Dois mil quilômetros.Dois anos.Dois caminhos diferentes.
No começo, havia aquela indecisão, o 'bom dia' virtual, as cartas, os emails, as conversas demoradas e descritivas sobre o dia comum. Era um consenso mudo. Nada sobre nós dois,apesar de sempre ser em relação a nós dois. Ele precisava estar lá. Eram a vida, os sonhos dele. Sua carreira, seu futuro, seu suor. Tentamos fingir que não havia distância,mas o sofá vazio parecia jogar na minha cara o contrário.Como eu queria uma saída de emergência pelos fundos.
Ele começou a sumir.Tão clichê.Ele já tinha sumido.Foi difícil,mas decidi sumir também.
Vi que talvez pudesse viver sem ele. Aprendi a viver sem ele. Me acostumei a ser sozinha.
Amor platônico pode se tornar real, mas amor real não consegue virar platônico. O inverso não é válido. Ele desaparece nos bons modos e na tentativa de reproduzir ou prolongar um afeto antigo.Amor real é viciado no corpo. Não suporta menos do que foi ou se alimentar da saudade. É uma pena que isso ocorra, é uma decepção diante do nosso romantismo e idealização, registra inclusive uma ausência de esforço.
Amor tem mais chance de dar errado do que certo, porque inventamos restrições e desculpas para não avançar. Amor tem que superar o antivírus das suspeitas e desconfianças. Sua eficácia depende do bombardeio, da pressa, da voracidade, da insistência do ataque. Para derrubar a vontade de se defender da companhia. Demônios coçam os nossos pulsos pelo conforto. Por isso, no início do namoro, os casais não se largam. Não podem se largar. Não podem ficar um minuto sem se falar, para não deixar que se reestabeleça o sistema de proteção.
Depois de alguns meses dando breves e enganadores 'bom dia' virtuais, descobri pelo orkut de um amigo que tem um amigo que é amigo dele. Status: namorando.
Com a distância, o antivírus dele retornou a funcionar. Ele não partilhou comigo o sofrimento da separação. Converteu a tristeza em desconforto orgulhoso. Daí sua frieza e neutralidade. Não pediu ajuda. Não contou que mudou. Há uma imunidade estratégica no ato: ele estipulou um limite para minha dor, eu era o limite e não pretendia repetir a cicatriz.
Ele soube que sofri com isso. Com o fato de não ter ficado a par de algo tão importante. Ele sabia que eu o amava. Que conseguia conviver resignadamente com isso,mas que o amava. Que falava dele quando amigos em comum apareciam, que como quem não quer nada mandava um abraço e um beijo por sua irmã,na esperança de que ao ouvir isso dela pelo telefone, talvez recebesse eu também uma ligação sua retribuindo o gesto.Ele sabia de tudo isso.Talvez até se comovesse com isso.Mas admirar a história não significa ter força para mexer nela. Alguns perdem o passaporte para regressar ao passado.
Os 'bom dia' um dia acabaram. Eu acho que mandei abraços e beijos demais pela irmã dele.
O cansei,talvez. O intimidei,provavelmente.

Dois anos.


Foi o que levei pra descobrir que respeitar a limitação dele era a minha única chance de reconciliação. Não houveram brigas,mas o silêncio.Isso foi pior.Buscava uma reconciliação para o que havia antes de o 'nós' tornar-se algo tão forte a ponto de machucar. Antes éramos um mais um. Talvez mais que só dois. Éramos amigos.
Preciso pelo menos de um bom dia. Mas, decidi ser educada com outras pessoas

Bruna Clézia,
Estudante de psicologia e autora do blog "Vômitos emocionais".



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