O texto base para essa explanação é de Lúcio Aneu Sêneca Da Tranquilidade da alma. Ao ler esse texto, vários pontos me chamaram atenção, inclusive o seu título. Fiquei pensando por algum momento porque de um enunciado tão profundo e, no decorrer da leitura, fui reconhecendo a mensagem que o autor quis enviar, uma mensagem que confortou inúmeras pessoas, mas que foi particularmente escrita para confortar a alma de um amigo, Sereno.
Fazendo uma análise controversa a de Sêneca, começando pelo título do meu texto, deter-me-ei a Sereno, considerando ele o dispositivo para o texto Da Tranquilidade da Alma. Pois, se o texto surge com a necessidade de dar um remédio para suas inquietudes, algo de muito raro deve existir nas suas súplicas. E existe, nas dele, nas minhas, nas nossas.
Sereno diz “Observando-me atentamente, descobri em mim, ó Sêneca, certos defeitos tão visíveis que eu o poderia tocar com o dedo; outros que se dissimulam nas regiões mais profundas; [...]” (P.197)
Essa confissão de Sereno a Sêneca nos remete ao tema que proponho a nos determos, as inquietações da alma. Pois, só mencionamos uma tranquilidade para a alma, se antes houver a inquietação.
É pouco provável que durante toda a nossa existência nunca experimentemos a inquietação da alma. Mas, é muito provável, que experimentemos essas angústias repetidas vezes, assim com Sereno estava experimentando. E o mais certo disso tudo é que não teremos respostas prontas para aliviar nosso sofrimento. Ao ler à resposta a angústia de Sereno, vi como Sêneca estava preocupado em amenizar a dor do amigo, somente por isso sua atitude já é muito louvável. O autor traz de forma sincera os possíveis caminhos para reconhecermos o motivo dessa intranquilidade. Sêneca diz “A alma humana é, com efeito, por instinto ativa e inclinada ao movimento.” (p.200)
Ele cita vários pontos que geram relações conflituosas com nós mesmos, entre eles: a nossa conturbada relação com o tempo, soberba, inconstância, apego as riquezas, nossa infelicidade nas situações difíceis, inveja, as inúmeras atividades inúteis a qual nos apegamos, a melancolia, o recolhimento, a ausência de vida social,a falta de divertimento e pouca motivação à amizades verdadeiras. As contribuições de Sêneca são muito importantes para reconhecermos as nossas limitações e nos enfrentarmos como realmente somos. Durante suas sérias colocações fui me reconhecendo em cada item.
Porém, há algo profundo entre ouvir os conselhos e acatá-los. Se atentarmos para a historicidade desses escritos, veremos que os problemas ao qual o autor se referia antigamente são os mesmos que nossa sociedade enfrenta atualmente. Outro exemplo disso são os escritos da Bíblia no livro de Eclesiastes, Salomão cita vários conselhos a respeito da busca pela paz de espírito, diz que ela não está na vã sabedoria, no poder, não se encontra em bens materiais, nos prazeres ou na soberba. Ele diz em Eclesiastes “O destino do homem é o mesmo do animal; o mesmo destino os aguarda. Assim como morre um, também morre o outro. [...] Todos vão para o mesmo lugar; vieram todos do pó; e ao pó todos retornarão.” (v.3, p.517)
Ao nos confrontarmos com esses escritos de milhares de anos, surge uma indagação: Por que temos tantos textos que valorizam uma tranquilidade da alma e a sabedoria humana e continuamos sentido inquietações e vivendo de modo tolo? Esse é o maior questionamento que devemos nos fazer. Que bom seria se ao terminar de ler os escritos de Sêneca colocássemos em prática todos os seus ensinamentos e soubéssemos administrar nossas inquietações. O problema estaria resolvido. Mas, não é tão simples como parece.
É exatamente por não ser tão simples que devemos dar mais atenção ao problema ao invés de buscar, apenas, inúmeros meios de resolvê-lo. Com todo respeito a Sêneca, Salomão e as pessoas que se propõem a estudar este tema, creio que as pessoas não precisam de remédios. O remédio conforta, ameniza, mas não sanciona o problema. Ele vai continuar lá e retornará todas as vezes que o corpo estiver com baixa imunidade. Mas quem sabe essas inquietações que existem dentro da alma em movimento existam realmente com o propósito de não serem cessadas. Quem sabe elas sejam pré-requisito para uma vida real, dolosa, mas humana. A verdade é que tudo isso são especulações e entre ficar com especulações sem nexo, preferimos ficar com especulações que nos dêem algum sentido. E como disse sabiamente Sêneca “É impossível alcançar o sublime e o inacessível, enquanto a alma pertencer a si mesma: é preciso que ela se desvie de seu caminho habitual, se liberte; e que, mordendo o freio, arrebate seu cavaleiro e o faça subir a alturas onde jamais ele se arriscaria por si mesmo.” (p.213)
Portanto, ficar sereno em meio à batalha diária que enfrentamos com nós mesmos é algo desafiador. Lutaremos contra nosso medo, nossa soberba, nossos vícios, nossos defeitos, nossas inquietações e veremos o quanto somos frágeis e descontentes com o que nós reproduzimos de nós mesmos, mas quanto a isso temos em comum com todos os outros seres humanos.
“[...] Todavia, dize a ti mesmo que nenhum destes meios é suficientemente poderoso para salvaguardar um bem tão frágil, se não cercarmos com a mais ativa e zelosa vigilância nossa alma, sempre pronta a se deixar desviar.” (SÊNECA, 1980, p.213)
Thamila Cristina
Fazendo uma análise controversa a de Sêneca, começando pelo título do meu texto, deter-me-ei a Sereno, considerando ele o dispositivo para o texto Da Tranquilidade da Alma. Pois, se o texto surge com a necessidade de dar um remédio para suas inquietudes, algo de muito raro deve existir nas suas súplicas. E existe, nas dele, nas minhas, nas nossas.
Sereno diz “Observando-me atentamente, descobri em mim, ó Sêneca, certos defeitos tão visíveis que eu o poderia tocar com o dedo; outros que se dissimulam nas regiões mais profundas; [...]” (P.197)
Essa confissão de Sereno a Sêneca nos remete ao tema que proponho a nos determos, as inquietações da alma. Pois, só mencionamos uma tranquilidade para a alma, se antes houver a inquietação.
É pouco provável que durante toda a nossa existência nunca experimentemos a inquietação da alma. Mas, é muito provável, que experimentemos essas angústias repetidas vezes, assim com Sereno estava experimentando. E o mais certo disso tudo é que não teremos respostas prontas para aliviar nosso sofrimento. Ao ler à resposta a angústia de Sereno, vi como Sêneca estava preocupado em amenizar a dor do amigo, somente por isso sua atitude já é muito louvável. O autor traz de forma sincera os possíveis caminhos para reconhecermos o motivo dessa intranquilidade. Sêneca diz “A alma humana é, com efeito, por instinto ativa e inclinada ao movimento.” (p.200)
Ele cita vários pontos que geram relações conflituosas com nós mesmos, entre eles: a nossa conturbada relação com o tempo, soberba, inconstância, apego as riquezas, nossa infelicidade nas situações difíceis, inveja, as inúmeras atividades inúteis a qual nos apegamos, a melancolia, o recolhimento, a ausência de vida social,a falta de divertimento e pouca motivação à amizades verdadeiras. As contribuições de Sêneca são muito importantes para reconhecermos as nossas limitações e nos enfrentarmos como realmente somos. Durante suas sérias colocações fui me reconhecendo em cada item.
Porém, há algo profundo entre ouvir os conselhos e acatá-los. Se atentarmos para a historicidade desses escritos, veremos que os problemas ao qual o autor se referia antigamente são os mesmos que nossa sociedade enfrenta atualmente. Outro exemplo disso são os escritos da Bíblia no livro de Eclesiastes, Salomão cita vários conselhos a respeito da busca pela paz de espírito, diz que ela não está na vã sabedoria, no poder, não se encontra em bens materiais, nos prazeres ou na soberba. Ele diz em Eclesiastes “O destino do homem é o mesmo do animal; o mesmo destino os aguarda. Assim como morre um, também morre o outro. [...] Todos vão para o mesmo lugar; vieram todos do pó; e ao pó todos retornarão.” (v.3, p.517)
Ao nos confrontarmos com esses escritos de milhares de anos, surge uma indagação: Por que temos tantos textos que valorizam uma tranquilidade da alma e a sabedoria humana e continuamos sentido inquietações e vivendo de modo tolo? Esse é o maior questionamento que devemos nos fazer. Que bom seria se ao terminar de ler os escritos de Sêneca colocássemos em prática todos os seus ensinamentos e soubéssemos administrar nossas inquietações. O problema estaria resolvido. Mas, não é tão simples como parece.
É exatamente por não ser tão simples que devemos dar mais atenção ao problema ao invés de buscar, apenas, inúmeros meios de resolvê-lo. Com todo respeito a Sêneca, Salomão e as pessoas que se propõem a estudar este tema, creio que as pessoas não precisam de remédios. O remédio conforta, ameniza, mas não sanciona o problema. Ele vai continuar lá e retornará todas as vezes que o corpo estiver com baixa imunidade. Mas quem sabe essas inquietações que existem dentro da alma em movimento existam realmente com o propósito de não serem cessadas. Quem sabe elas sejam pré-requisito para uma vida real, dolosa, mas humana. A verdade é que tudo isso são especulações e entre ficar com especulações sem nexo, preferimos ficar com especulações que nos dêem algum sentido. E como disse sabiamente Sêneca “É impossível alcançar o sublime e o inacessível, enquanto a alma pertencer a si mesma: é preciso que ela se desvie de seu caminho habitual, se liberte; e que, mordendo o freio, arrebate seu cavaleiro e o faça subir a alturas onde jamais ele se arriscaria por si mesmo.” (p.213)
Portanto, ficar sereno em meio à batalha diária que enfrentamos com nós mesmos é algo desafiador. Lutaremos contra nosso medo, nossa soberba, nossos vícios, nossos defeitos, nossas inquietações e veremos o quanto somos frágeis e descontentes com o que nós reproduzimos de nós mesmos, mas quanto a isso temos em comum com todos os outros seres humanos.
“[...] Todavia, dize a ti mesmo que nenhum destes meios é suficientemente poderoso para salvaguardar um bem tão frágil, se não cercarmos com a mais ativa e zelosa vigilância nossa alma, sempre pronta a se deixar desviar.” (SÊNECA, 1980, p.213)
Thamila Cristina
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