13 de nov. de 2009

Espírito Livre: Vida Voluntária dedicada à busca da sabedoria.

Estudar filosofia é, no mínimo, desafiador. Quem se arrisca a “filosofar” passa a ver que a filosofia é diária e comum a todos nós. É uma escolha arriscada a se fazer e como toda escolha que tomamos na vida traz seus riscos. O certo na Filosofia é que nunca sabemos com exatidão onde será nosso destino final e haverá dias que não saberemos o que tanto procuramos, mas temos certeza que a opção por esta alternativa é porque não queremos continuar como estamos: alheios à vida e conformados com as “verdades” impostas, queremos ser espíritos livres, queremos ser exceção. A Filosofia meche profundamente com a alma e tudo que incomoda a alma, de certo, é passível de consideração.Por isso,discutiremos a seguir esse apaixonante campo de estudo que atravessou épocas e sobrevive até hoje.

A afirmação de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX “A Filosofia, tal como até agora entendi e vivi, é a vida voluntária no gelo e nos cumes - a busca de tudo o que é estranho e questionável no existir...” traz muitas reflexões acerca do tema Filosofia. De início podemos ver o quão consciente é a escolha do filósofo de penetrar neste caminho, Nietzsche não avalia a Filosofia como algo confortável para a vida humana, pelo contrário, nesta afirmação sugere o quanto a decisão de optar por esse caminho é séria e desconcertante. Ao se referir ao gelo e ao cume, ele metaforiza o quanto à vida do filósofo pode ser solitária e desafiadora, pois de acordo com (FERREIRA, 2005) cume significa o ponto mais alto, crista, auge, apogeu. Tomar a decisão de chegar ao topo mais alto de uma montanha, por exemplo, é uma tarefa árdua e repleta de sacrifícios que nem todo ser humano está disposto a enfrentar, serão noites mal dormidas, cansaço físico, dores musculares, solidão, falta de comunicação, frio etc. O alpinista convive diariamente com muitos desafios devido à escolha que optou por fazer em sê-lo, mas o que o motiva a levar essa vida cheia de restrições é algo muito maior do que as dores e os sacrifícios, ele tem como recompensa os próprios limites vencidos e uma vista espetacular do alto, onde poucas pessoas conseguem chegar e ele, bravamente, pela própria força conseguiu. Nietzsche faz uma analogia brilhante entre a filosofia e a decisão de ousar, de ir além.

Para os filósofos existem decisões árduas a serem tomadas e sacrifícios a serem enfrentados, mas o interessante é que nessa trajetória de tornar-se filósofo os sacrifícios são pequenos diante da apaixonante recompensa da liberdade da razão, termo utilizado por Nietzsche. (2000 ,Capítulo VIII - aforismo 638)

O mais bonito na Filosofia é que a decisão de enfrentar os cumes e o gelo é voluntária. Quando somos confrontados com o que é estranho e questionável e aceitamos ir além do convencional, fazemos isso por vontade, desejo. Essa é uma ação em primeira pessoa, fazemos porque desejamos querer ir além. O filósofo age por ele mesmo, ele decide enfrentar a vida, os conceitos, as idéias, mesmo que com isso ele tenha noites mal dormidas e não exista meta final a se perseguir.

De acordo com Marilena Chauí (2005; p.16) “[...] quem não se contenta com as crenças ou opiniões preestabelecidas, quem percebe contradições e incompatibilidades entre elas, quem procura compreender o que elas são e porque são problemáticas está exprimindo um desejo, o desejo de saber. E é exatamente isso o que, na origem, a palavra filosofia significa, pois, em grego, philosofhía quer dizer “amor à sabedoria”.

É a partir dos momentos de crise que surgem os “espantos”,assim como dizia Aristóteles,a Filosofia começa com o espanto. Espantamos-nos com as coisas e dessa ação surge o desejo de ir além, desbravar o comum e refletir porque agimos de determinada maneira. Porque sentimos amor, raiva, ira, tristeza. Porque temos o senso, ou não, de justiça, fidelidade, lealdade. A partir desse desejo pela sabedoria muitas coisas florescem em nossa vida e nunca mais seremos os mesmos, de forma alguma continuaremos como estávamos.

Nietzsche diz “Quem alcançou em alguma medida a liberdade da razão, não pode se sentir mais que um andarilho sobre a terra – e não um viajante que se dirige a uma meta final: pois esta não existe. Mas ele observará que terá olhos abertos para tudo quanto realmente sucede no mundo [...]”. (2000, Capítulo VIII - aforismo 638)

Por isso, precisamos viver a Filosofia e não apenas estudá-la. Ela faz parte do cotidiano e está em tudo que nos cerca. Viver a filosofia traz implicações, pois quem descobre a liberdade da razão terá noites de inquietação, frio no gelo e solidão nos cumes. Mas sentirá paz, a mesma que envolve o alpinista ao chegar ao cume e vê todo o caminho percorrido, todo suor gasto e toda diversidade atravessada. Ao contrário do alpinista, o filósofo não tem um destino final, uma meta. O filósofo nem sabe onde vai chegar ou aonde quer chegar, ele simplesmente vai. Mas creio que a sensação de liberdade pode ser a mesma nos dois casos, limitações vencidas, sabedoria adquirida e paz de um espírito livre.

Portanto, Nietzsche foi bastante feliz em sua afirmação a respeito da Filosofia, fazendo-nos refletir o quanto essa busca pelo que é estranho e questionável no existir é válida e o quanto a Filosofia vai nos guiar em relação a isso, cabendo a nós dedicação e voluntariedade a essa escolha arriscada e prazerosa, pois no momento que saímos da caverna podemos experimentar como é viver como um espírito livre, prontos para enxergar a luz!


Thamila Cristina dos Santos






2 comentários:

  1. Adorei o artigo..
    mas tenho alguns pontos a considerar..
    De que adianta chegar ao topo das montanhas mais altas se vc não pode dividi-la com alguem?
    Seria interessante dividirmos pensamentos, mesmos que esses, por vezes sejam controversos as outras pessoas.
    Nada melhor que dividirmos vitórias. E como foi coloca no filme "Poder Alem da Vida", o importante não é a medalha, mas o caminho que se percorre pra alcança-la.
    E uma ultima colocação,via EngHaw e Capital Inicial:
    Olofotes nos nossos olhos cegam mais que iluminam??
    E se a inteligencia ficou cega de tanta informação?
    Mas mais uma vez, muito bom o texto... Gostei de achar esse blog..

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  2. ´Querido,
    adorei saber que tenho um leitor! kkkkkkk
    Esse texto eu fiz para minha disciplina de filosofia na faculdade e eu tentei dar esse ar 'existencial' pq teríamos que analisar uma frase de nietszche.
    A questão não é ir sozinho rumo ao topo,
    nem apenas somente chegar atá lá.
    A questão é aproveitar a ida até esse topo (olha que topo ai não é sucesso,glória etc)
    É tbm viver,não se acosutmar com que mandam eu pensar.
    As pessoas querem respostas rápidas,curas imediatas,consolos obrigatórios e o que nietszche quis dizer é que o caminho a se percorrer nessa busca da sabedoria é desconcertante.
    Ai se formará o espírito livre,não o que sabe de tudo,mas o que tem paz consigo mesmo de ter realizado a mais dura tarefa,a de busca. (mesmo que eu não encontre nada,mas eu fui além!)
    é isso.
    muito obrigada pelo comentário.

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